Candomble e as primeiras casas de Santo do Brasil

Postado por: Ebomi at 20:29 2 Comentarios
Esse texto fala sobre a nossa rica cultura do Candomblé e como surgiu as primeiras casa de santo no Brasil (terreiros de axé), o artigo é rico em conhecimentos e retirado de uma fonte que serviu de muita orientação ao povo de santo como um todo, independentemente de Nação (Jejê, Angola, Ketu, Efon).

A instituição de confrarias religiosas, sob a égide da Igreja Católica, separava as etnias africanas. Os pretos de Angola formavam a Venerável Ordem Terceira do Rosário de Nossa Senhora das Portas do Carmo, fundada na Igreja Nossa Senhora do Rosário do Pelourinho. Os daomeanos (gêges) reuniamse sob a devoção de Nosso Senhor Bom Jesus da Necessidade e Redenção dos Homens Pretos, na Capela do Corpo Santo, na Cidade baixa.

Os nagôs, cuja maioria pertencia à nação Ketu, formavam duas irmandades: uma de mulheres, a de Nossa Senhora da Boa Morte; outra reservada aos homens, a de Nosso Senhor dos Martírios.

O Candomblé e as primeiras casas de Santo

Essa separação por etnias completava o que j´s havia esboçado a instituição dos batuques do século precedem e permitia aos escravos, libertos ou não, assim reagrupados, praticar juntos novamente, em locais situados fora das igrejas, o culto de seus deuses africanos. Varias mulheres enérgicas e voluntariosas, originárias de Kêto, antigas escravas libertas, pertencentes à Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte da Igreja da Barroquinha, teriam tomado a iniciativa de criar um terreiro de candomblé chamado Ìyá Omi À Àirá Intil, numa casa situada na Ladeira do Berquo, hoje Rua Visconde de  taparica, próxima à Igreja da Barroquinha.


Iyalussô Danadana e Iyanassô Akalá


As versões sobre o assunto são numerosas e variam bastante quando relatam as diversas peripécias que acompanharam essa realização. Os nomes dessas mulheres são eles mesmos controversos. Duas delas, chamadas Iyalussô Danadana e Iyanassô Akalá, segundo uns, e Iyanassô Oká, segundo outros,
auxiliadas por um certo Babá Assiká, saudado como Essa Assiká no padê do qual falaremos mais tarde, teriam sedo as fundadoras do terreiro de À Àirá Intilé. Iyalussô Danadana, segundo consta, regressou à África e lá morreu. Iyanassô teria, pelo seu lado, viajado a Kêto, acompanhada por Marcelina da Silva.

Não se sabe exatamente se esta era sua filha de sangue, ou filha espiritual, isto é iniciada por ele no culto dos orixás, ou ainda, se tratava de uma prima sua. As opiniões sobre o assunto são controversas e tornam-se objeto de eruditas discussões, estando, porém todos de acordo em declarar que seu nome de iniciada era Obatossí.

Marcelina-Obatossí fez-se acompanhar nessa viagem por sua filha Madalena. Após sete anos de permanência em Kêto, o pequeno grupo voltou acrescido de duas crianças que Madalena tivera na África, e grávida de uma terceira, Claudiana, que será por sua vez mãe de Maria Bibiana do espírito Santo, Mãe Senhora, Oxum Miua, da qual tive a insigne honra de tornar-se filho espiritual.

Iyanassô e Obatossí trouxeram de Kêto, além dessas filhas e netas, um africano chamado Bangboxé, que recebeu na Bahia o nome de Rodolfo Martins de Andrade, e, no padê ao qual me referi acima, é saudado como Essa Obitikô. O terreiro situado, quando de sua fundação, por trás da Barroquinha mudou-se por diversas vezes e, após haver passado pelo Calabar na Baixa de São Lázaro, instalou-se sob o nome de Ilê Iyanassô na Avenida Vasco da Gama, onde ainda hoje se encontra, sendo familiarmente chamado de Casa Branca do Engenho Velho, e no qual Marcelina Obatossí tornou-se a mãe-de-santo após a morte de Iyanassô.

Verifica-se ligeira divergência na versão dada por Dona Menininha relativa às origens dos terreiros provenientes da Barroquinha. O nome de Iyalussô danadana não é mencionado. A primeira mãe-desanto teria sido Iya Akalá (distinta de Iyanassô), que, tendo regressado à África, aí mesmo veio a falecer. A segunda mãe-de-santo teria sido Iyanassô Oká (e não Akalá). Não se sabe com precisão a data de todos esses acontecimentos, pois, no início do século XIX, a religião católica era ainda a única autorizada.

As reuniões de protestantes eram toleradas só para os estrangeiros; o islamismo, que provocara uma série de revoltas de escravos entre 1808 e 1835, era formalmente proibido e perseguido com extremo rigor; os cultos aos deuses africanos eram ignorados e passavam por práticas supersticiosas. Tais cultos tinham um caráter clandestino e as pessoas que neles tomavam parte eram perseguidas pelas autoridades.

Por volta de 1826, a polícia da Bahia havia, no decorrer de buscar efetuadas com o objetivo de prevenir possível levantes de africanos, escravos ou livres, na cidade ou nas redondezas, recolhido atabaques, espanta-moscas e outros objetos que pareciam mais adequados ao candomblé do que a uma sangrenta revolução. Nina Rodrigues refere-se a certo quilombo, existente nas matas de Urubu, em Pirajé, o qual se mantinha com o auxílio de uma casa de fetiche da vizinha, chamada a Casa do Candomblé.

Um artigo do Jornal da Bahia, de 3 de maio de 1855, faz alusão a uma reunião na casa Ilê Iyanassô: foram presos e colocados à disposição da policia Cristóvão Francisco Tavares, africano emancipado, Maria Salomé, Joana Francisco, Leopoldina Maria da Conceição, Escolástica Maria da Conceição, crioulo livres; os escravos Rodolfo Araújo Sá Barreto, mulato; Melônio, crioulo, e as africanas Maria Tereza, Benedita, Silvana...

Que estavam no local chamado Engenho Velho, numa reunião que chamava de candomblé. É curioso encontrar nesse documento o nome, pouco comum, de Escolástica Maria da Conceição, o mesmo com o qual seriam batizados, trinta e cinco anos mais tarde, Dona menininha, a famosa mãe-de-santo do Gantois, cujos pais, a essa época, sem dúvida, frequentavam ou faziam parte do terreiro de Ilê Iyanassô, onde houve essa ação policial.

Com a morte de Marcelina-Obatossí, foi Maria Júlia Figueiredo, mnike, Iyálódé, também chamada Erelú na sociedade dos gld, que se tornou a nova mãe-de-santo. Isso provocou sérias discussões entre os membros mais antigos do terreiro de Ilê Iyanassô, tendo como conseqüência a criação de dois
novos terreiros, originários do primeiro; Júlia Maria da Conceição Nazaré, cujo orixá era Dada Báayànì Àjàkù, fundou um terreiro chamado Iyá Omi À Iyámase, no Alto do Gantois, cuja mãe-desanto atual, e quarta a ocupar este lugar, é Dona Escolástica Maria da Conceição Nazaré, Menininha, a última das famosas mães-de-santo da antiga geração.

Segundo Menininha, Júlia Maria da Conceição Nazaré, fundadora do Terreiro do Gantois, teria sido a irmã-de-santo, e não filha-de-santo, de Marcelina-Obatossí. Uma personagem importante nos meios do candomblé, chamada Babá Adetá Okanledê, consagrada a Oxossi Orixá e originária de Kêto, teria tido um papel importante quando foi criado o Terreiro do Gantois, Iyá Omi À Ìyámase.

Eugênia Ana Santos, Aninha Obabii, cujo orixá era Xangô, auxiliada por Joaquim Vieira da Silva, basanya, um africano vindo do Recife e saudado Essa Oburô, no padê ao qual já fizemos alusão, fundaram outro terreiro saído do Ilê Iyanassô e chamado Centro Cruz Santa do Axé ter funcionado provisoriamente no lugar denominado Camarão, no bairro do Rio Vermelho. Sob o impulso dessa grande mãe-de-santo, o novo terreiro rapidamente se igualou aos outros, e talvez tenha mesmo ultrapassado em reputação os outros candomblés kêto. Maria da Purificação Lopes, Tia Badá Olufandei, sucedeu, em 1938, a Aninha e deixou, em 1941, o encargo do terreiro a Maria Bibiana do Espírito Santo, Mãe Senhora Oxum Miua, filha espiritual de Aninha Obabii.
 
Pelo jogo complicado das filiações, Senhora era bisneta de Obatossí por laços de sangue e sua neta pelos laços espirituais da iniciação. Em outros termos, Iyanassô Akalá (ou Oká) foi, na geração anterior, ao mesmo tempo a bisavó e a trisavó de Senhora.

Mas as coisas tornaram-se mais complicadas ainda quando Senhora recebeu, em 1952, o título honorífico de Iyanassô pelo Aláàfin Òyó da Nigéria, através de uma carta da qual tivemos a honra de ser opartador. Senhora, abolindo o tempo passado graças a essa distinção, tornou-se espiritualmente a fundadora dessa família de terreiros de candomblé da nação Kêto, na Bahia, todos originários da Barroquinha. Confirmou tão elevada posição, em 1962, quando foi presidir, seguida de seus ogãs, o Axexê, ou cerimônia mortuária, da saudade e mais que centenária mãe-de-santo do Ilê Iyanassô da Casa Branca do Engenho Velho, Maximiana Maria da Conceição, Tia Massi Oinfunké.

Essa dignidade recebida da África por Senhora provocou, diga-se de passagem, comentários e rumores, os fuxicos que agitam e apaixonam as pessoas que pertencem a esse pequeno mundo cheio de tradição, onde as questões de etiqueta, de direitos, fundamentadas sobre o valo dos nascimentos espirituais, de primazias, de gradação nas formas elaboradas de saudações, de prosternações, de ajoelhamentos são observadas, discutidas e criticadas apaixonadamente; nesse mundo onde o beijamão, as curvaturas, as deferentes inclinações de cabeça, as mãos ligeiramente balançadas em gestos abençoadores representam um papel tão minucioso e docilmente praticado como na corte do Rei Sol.

Os terreiros de candomblé (casa de Santo) são os últimos lugares onde as regras do bom-tom reinam ainda soberanamente. Após o desaparecimento da saudosa Mãe Senhora, em 1967, duas novas mães-de-santo lhe sucederam à frente do Axé Opô Afonjá. A atual, Maria Estella de Azevedo Santos, dksyòdé, retomando a tradição de Iyanassô e de Obatossí, realizou uma viagem às fontes, na Nigéria e no ex-Daomé. Outros terreiros foram criados, originários do Axé Opô Afonjá, formando uma terceira, ou mesmo uma quarta geração dessa família de candomblés que nasceu na barroquinha.

 Citemos o Axé Opô Aganju, de Balbino Daniel de Paula, baraim, que viajou para África e ai participou das festas para Xangô, com perfeita naturalidade e como se sua família não houvesse deixado aquele país há várias gerações. Recebeu aí novo nome africano, Gbbagúnlè, o rei desce sobre a terra. Indiquemos também o terreiro Ilê Òrìànlá Funfun, instalado em Guarulhos, São Paulo, pelo esforços de Idérito do Nascimento Corral, filho-de-santo de menininha do Gantois. Este pai-de-santo fez, em campainha de um dos seus filhos-de-santo, Tasso Gadzanis, de Ogum, várias peregrinações à África, onde recebeu de Olufn, rei de Ifn, o título invejável de Àwòrò Òàlúfón.

No Estado do Rio de Janeiro instalaram-se números candomblé, originários dos três terreiros kêto da Bahia. Citemos, entre os mais prestigiosos, o Axé Opô Afonjá em Coelho da Rocha, ligado àquele de mesmo nome, estabelecido na Bahia pela célebre Aninha; em Miguel Couto, o terreiro de Nossa Senhora das Candeias, fundado por Nitinha de Oxum, Filha-de-santo de Tia Massi da Casa Branca da Bahia. Tudo isso mostra a vitalidade, o crescimento e a multiplicação dos terreiros de candomblé originários da Barroquinha. Existem numerosos outros terreiros que seguem o ritual kêto, como o de Ilê Mariolaje, no Matatu, mais conhecido sob o nome de Alakêto, cuja mãe-de-santo atual, Olga Francisca Regis, yafúnmi, já várias vezes à África. Citemos, ainda, o terreiro de Ilê Ogunjá (casa de Ogum), também no matatu, do falecido pai-desanto Procópio Xavier de Souza, Ògúnjbi.

Ao lado dos terreiros nagô-kêto, há na Bahia os da nação Ijexá. O mais digno dentre eles é o de Eduardo Ijexá, ou Eduardo Antônio Mangabeira, meio-irmão de Otávio Mangabeira, ex-governador do Estado da Bahia. Durante a década de 50, ele enviou cartas redigidas em perfeito iorubá a seu distante parente, o rei de Ijexá, que as recebeu de nossa mãos bastante emocionado. Limitamos o tema desta obra aos orixás iorubás; portanto não falaremos dos terreiros cujas origens estão situadas em outras regiões da África.

Assinalamos, entretanto, que o ritual nagô parece ter tido uma grande influência sobre os que são realizados nesses outros terreiros. Não se pode excluir também a possibilidade de que certas influências bantus se tivessem produzido entre os nagôs, levando em conta que foram trazidos, em grande número, escravos do Congo e de Angola até os fins do século XVII para todo o Brasil.

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Orixás e sincretismo dentro da Nação do Candomblé

Postado por: Ebomi at 14:56 0 Comentários

O texto a seguir fala sobre como e por que surgiu o sincrestimo do Orixás e os Santos Católicos dentro da nossa religião Nação Candomblé e Umbanda, pois esses mesmos santos, que haviam protegido os interesses dos negreiros e a vida de uma parte dos negros transportada, tiveram o bom senso de realizar em seguida um exame de consciência, do qual resultou uma troca de posição: passaram a proteger os escravos, ajudando-os a mistificar os seus
senhores.

Foto Orixás e sincretismo dentro da Nação do Candomblé

Orixás e Sincretismo

Talvez tivessem partilhado os remorsos tardios do Padre Bartolomeu de Lãs Casas, o qual, levado pela piedosa intenção de preservar as vidas dos índios caraíbas, tentativa, aliás, sem resultados, desempenhou, no século XVI, o papel de instigador do tráfico transatlântico de negros. Aliás, esse tráfico África, Europa já existia há bastante tempo. Espanha e Portugal abasteciam-se, ainda que modestamente, de escravos mouros e negros barbarescos do norte da África, ao longo da costa do Atlântico. Os países barbarescos do norte da África faziam precisamente mesmo, capturando os infiéis, neste caso os cristãos, e colocando esses cães a remar nos bancos das suas galeras.

Em contrapartida, os porões da galera estavam repletos de mouros. Mas, voltando aos santos do paraíso católico, é certo que eles ajudaram os escravos a lograr e a despistar os seus senhores sobre a natureza das danças que estavam autorizados a realizar, aos domingos, quando se reagrupavam em batuques por nações de origem. Em 1758, o Conde dos Arcos, sétimo vice-rei do Brasil, mostrava-se partidário de distrações dessa natureza, não por espírito filantrópico, mas por julgar útil que os escravos guardassem a lembrança de suas origens e não esquecessem os sentimentos de aversão recíproca que os levaram a se guerrear em terras da África.

Assim divididos, eles não se arriscariam a um levante em conjunto, como iriam faze-lo cinqüenta anos mais tarde contra os seus senhores. Estes últimos, vendo os seus escravos dançarem de acordo com os seus hábitos e cantarem nas suas próprias línguas, julgavam não haver ali senão divertimentos de negros nostálgicos. Na realidade, não desconfiavam que o que eles cantavam, no decorrer de tais reuniões, eram preces e louvações a seus orixás, a seus vodun, a seus inkissi. Quando precisam justificar o sentido dos seus cantos, os escravos declaravam que louvavam, nas suas línguas, os santos do paraíso. Na Verdade, o que eles pediam era ajuda e proteção aos seus próprios deuses.

Não se pode afirmar que já se tratava de sincretismo entre os deuses da África, por um lado, e os santos católicos, por outro, pois, no século XVIII, as características das divindades africanas eram ainda desconhecidas dos senhores e do clero português, enquanto os escravos não podiam também conhecer os detalhes da vida dos santos.

As primeiras menções às religiões africanas no Brasil são de 160, por ocasião das pesquisas do Santo Oficio da Inquisição, quando Sebastião Barreto denunciava o costume que tinham os negros, na Bahia, de matar animais, quando de luto... Para lavar-se no sangue, dizendo que a alma, então, deixava o corpo para subir ao céu. Por volta da Costa da Mina que fazia bailes às escondidas, com uma preta mestra e com altar de ídolos, adorando bodes vivos, untando seus corpos com diversos óleos, sangue de galo e dando a comer bolos de milho depois de diversas bênçãos supersticiosas...

É difícil precisar o momento exato em que esse sincretismo se estabeleceu. Parece ter-se baseado, de maneira geral, sobre detalhes das estampas religiosas que poderiam lembrar certas características dos deuses africanos. Pode parecer estranho, à primeira vista, que Xangô, deus do trovão, violento e viril tenha sido comparado a São Jerônimo, representado por um ancião calvo e inclinado sobre velhos livros, mas que é freqüentemente acompanhado, em suas imagens, por um leão docilmente deitado a seus pés. E como o leão é um dos símbolos de realeza entre os iorubás, são Jerônimo foi  comparado a Xangô, o terceiro soberano dessa nação.

A aproximação entre Obaluaê e São Lázaro é mais evidente, pois o primeiro é o deus da varíola e o corpo do segundo é representado coberto de feridas e abscessos. Iemanjá, mãe de numerosos outros orixás, foi sincretizada com Nossa Senhora da Conceição, e Nanã Buruku, a mais idosa das divindades das águas, foi comparada a Santa Ana, mãe da Virgem Maria.

Oiá-Iansã, primeira mulher de Xangô, ligada às tempestades e aos relâmpagos, foi identificada com Santa Bárbara. Segundo a lenda, o pai dessa santa sacrificou-a devido à sua conversão ao cristianismo, sendo ele próprio, logo em seguida, atingido por um raio e reduzir a cinzas. A relação entre o Senhor do Bonfim e Oxalá, divindade da criação, é mais dificilmente explicável, a não ser pelo imenso respeito e amor que ambos inspiram.

Na Bahia, São Jorge é identificado com Orixá Oxossi, deus dos caçadores, mas, no Rio de Janeiro, é ligado a ogum, deus da guerra, o eu é compreensível em relação aos dois orixás, pois São Jorge é apresentado nas gravuras como um valente cavaleiro, vestido em brilhante armadura, montado sobre um cavalo ricamente ajaezado em ferro, que bate no chão com as patas e caracola. Armado com uma lança, São Jorge da Capadócia Mata um dragão enfurecido, caça predileta do deus dos caçadores.

Para maior satisfação do deus dos guerreiros, no Rio de Janeiro, desde os tempos do Império, segundo Arthur Ramos, São Jorge aparecia nas procissões montado num cavalo branco, com honras de coronel e recebendo as continências da tropa à sua passagem. Na Bahia, porém, é com Santo Antônio que
Ogum vai ser sincretizado.

Esta aproximação entre Ogum Orixá , deus da guerra, e Santo Antônio parece surpreendente, pois o santo é geralmente representado com uma aparência suave e atraente, trazendo uma flor-de-lis na mão e carregando, em seus braços, o Menino Jesus. Foi, no entanto, cognominado o martelador dos heréticos por causa da extrema violência verbal que usava para fustigar os maus pensadores e os monges sacrílegos.

A chave do mistério dessa estranha associação nos é dada nas recordações das viagens feitas, em 1839, por Daniel P. Kidder: Uma frota o escrevia, comandado por luteranos, deixou a Franças em 595, com a intenção de conquistar a Bahia.

No caminho, os protestantes atacaram Argoim, uma ilhota ao largo da costa da África, pertencente aos portugueses, e, depois de se atirarem ao saque e à destruição, levaram entre outras coisas uma imagem de Santo Antônio. Logo que prosseguiram viagem, foram atacados por uma forte tempestade, o que causou a perda de vários navios.

Os que escaparam à tormenta foram acometidos pela peste, e durante essa provação, por ódio ao catolicismo, jogaram a imagem no mar, após terem-na mutilado com golpes de facão. O navio que transportava chegou a um porto de Sergipe, onde todos os que estavam a bordo foram presos.

Mandados para a Bahia, a primeira coisa que viram na praia foi à imagem que tanto haviam maltratado...

Os frades franciscanos levaram-na, em solene procissão, para o seu convento... Mas os frades, mal satisfeitos com a aparência velha e feia da imagem, substituíram-na por outra imagem, mais pomposa e elegante e que foi batizada com o mesmo, tendo, em princípio, herdado sua virtudes...

Santo Antônio foi alistado, como soldado, no Forte da Barra, que tem o seu nome. Como soldado, recebeu regularmente o soldo até que foi promovido ao posto de capitão, em 16 de julho de 1705, pelo governador Rodrigo da Costa. A Cópia da ordem, dada por aquele governador, está publicada no livro de Kidder e determina que o procurador do convento está autorizado a receber o montante deste soldo de capitão. Durante a última guerra mundial, Santo Antônio foi promovido a major.

Os franciscanos da Bahia conservam o uniforme de gala oferecido por uma rica devota. Debret relata as horárias militares concedidas a santo Antônio nas diferentes províncias do Brasil. Fala, talvez com exagero, do seu título de marechal dos exércitos do rei João VI e de comendador da Orem de Cristo na Bahia, de coronel e grã-cruz da Ordem de cristo no Rio de Janeiro, ou mesmo, mais modestamente, de simples cavalheiro de cristo no Rio Grande.

Ao que parece, certos membros do clero católico julgaram conveniente favorecer esse sincretismo, como o Padre Boucher havia sugerido, na própria África, ao descrever a estátua da Iangbá, mulher de Oxalá, nos seguintes termos: esta deusa que muito se parece com a Santa Virgem, pois tanto uma como a outra salvaram os homens.

Os santos católicos, ao se aproximarem dos deuses africanos, tornavam-se mais compreensíveis e familiares aos recém-convertidos. É difícil saber se essa tentativa contribuiu efetivamente para converter os africanos, ou se ela os encorajou na utilização dos santos para dissimular as sua verdadeiras crenças.

 É o que Nina Rodrigues indagava em 1890, numa época em que o sincretismo entre orixás e santos católicos ainda estava em formação e onde a equivalência entre eles era flutuante e variável de acordo com os terreiros.

Existia ainda, na época, a tendência de se identificar Xangô com Santa  Bárbara, como se vê até hoje em Cuba, apesar da diferença de sexo, pois o argumento das relações com o trovão parecia dominar. Nina Rodrigues escrevia, então: Aqui na Bahia, como em todas as missões de catequese dos negros africanos, seja ele católico, protestante ou maometano, longe de o negro converter-se ao catolicismo, protestantismo ou ao islamismo, acontece, ao contrário influenciá-los com seu fetichismo e adapta-los ao animismo do negro.

Basta, para compreender o fenômeno, assistir aos serviços divinos nos templos protestantes do Harlem, em Nova York, ou mesmo na África, aos cultos de numerosas seitas mais ou menos sincréticas, como a dos querubins e Serafim, onde os fiéis são visitados e possuídos, violentamente algumas vezes, pelo Espírito Santo.

Nos candomblés, as duas religiões permanecem separadas, e Nina Rodrigues constatava que, em fins do último século, a conversão religiosa não fez mais que justapor as exterioridades muito mal compreendidas do culto católico às suas crenças e práticas fetichistas que em nada se modificaram.
Concebem os seus santos ou orixás e os santos católicos como de categoria igual, embora perfeitamente distintos.

Os africanos escravizados se declaravam e aparentavam convertidos ao catolicismo; as práticas fetichistas puderam manter-se entre eles até hoje quase tão estremes de mescla como na África. Depois, as viagens constantes para a África com navegação e relações comerciais diretas...

Facilitaram a reimportação de crenças e práticas, porventura um momento esquecido ou adulterado.
Com o passar do tempo, com a participação de descendentes de africanos e de mulatos Ada vez mais numerosa, educada num igual respeito pelas duas religiões, tornaram-se eles tão sinceramente católicos quando vão à igreja, como ligados às tradições africanas, quando participam, zelosamente, das cerimônias de Candomblé.


fonte: Pierre Fatumbi Verger

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CANTIGAS OYA - IANSA ORIXAS

Postado por: Ebomi at 13:33 2 Comentarios

CANTIGAS OU ORIN DE XIRÊ OYÁ OU IANSÃ

Escute os Canticos de Yansã em Ketu no Candomblé para você aprender a pronúncia e a tradução do yoruba para Português.

Esse é mais um video do nosso Canal de cantigas de Candomblé, Orixá, Umbanda e Exú de Umbanda (pomba Gira).

Cantigas - canticos - orin - oro de Oya iansa - Yansa


Saudação de Iansã ou Oyá: EPARREI, OYÁ MESSAN ORUN.
Dia da Semana: Quarta-feira
Comida ritualística: Acarajé
Cor: Vermelho Coral

1 – Cantiga de Iansã ou Oyá:


BIRI BIRI BA AGAN LOJU OBÉ RIKOMAN MARIÔ


2 – Orin de Oyá:

Oyá tete Oya balé Oya ten te a yaba,

Oya tete, Oya ten te Oyá,


3 – Cantico de Iansã :

Ta ni a pada loodo Oya, odo ho ya-ya, (bis)


4 – Yansã:

Oya Oya korro nile ati mo tum bale, (bis)


5 – Cantiga de Iansã ou Oyá:

Oyá Onile o ni geere pó ô paro ti, (bis)

O vídeo com Áudio, Letra e Tradução do Xirê de Yansã


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Ebó com Exú para atrair vendas e Clientes no seu negocio

Postado por: Ebomi at 21:33 3 Comentarios
Esse Ebó é melhor o lado financeiro nos seus caminhos espirituais com ajuda de Exú Lonan ou Onan. Muito aconselhado para atrair vendas e clientes no seu negocio por exemplo se você tem um estabelecimento comercial ou trabalha com comissões.

Não tem nenhum problema em fazer essa oferenda para trazer o IRÊ (sorte) para o seu lado. Então se você quiser progredir na vida, sucesso no trabalho, almeja um cargo superior ao seu, esse é uma boa Macumba (Magia) com a ajuda de Exú Orixá. O trabalho não tem restrições de religião, podendo ser do candomblé, umbanda, kardecismo, etc.

Ebó, magia, feitiço, trabalho para atrair boa sorte nos negocios

Ingredientes para o Ebó de Irê

Óleo de amêndoas doces, dandá-da-Costa ralado, fava de Aridan ralada, fava de aiô e folhas da fortuna socadas.

Como fazer Ebó para obter clientes

- Você deve misturar tudo e pedindo coisas boas e bons pensamentos na hora em que estiver empenhado no ritual dessa magia “concentração no que almeja na hora do trabalho é a dica de um bom feiticeiro”.

- Misture tudo, faça uma pasta e passe nos pés falando tudo o que deseja (lembre-se que é para o positivo, não devendo pedir nada de mau nesse trabalho)

- Deixe por 3 horas aproximadamente, não brigue, não pratique sexo (resguarde-se nesse periodo)

- Depois, limpe cada pé com um pedaço de morim branco, um pedaço para cada pé. Coloque em um alguidar 21 moedas, 7 acaçás, 21 búzios e 7 cocadas.

Cubra tudo com dendê e coloque em uma encruzilhada, oferecendo para Exu Onan, pedindo que ele lhe traga vendas, clientes, dinheiro, sorte e tudo que é bom para você.

Que ele encaminhe seus pés sempre para a fartura e para o bem. Acenda também uma vela para ele.

Os panos, com os quais você limpou os pés, deverão forrar o alguidar, mas um ao lado do outro. Esta magia deve ser feita na lua cheia. Você pode também lavar o rosto com água de côco, uma dose de licor de aniz e mel, deixe secar e depois lave com água filtrada.

Pode fazer isto para ajudar a magia, ou independente dela. É muito bom usar folhas de louro no sapato, na carteira ou no bolso.

Defumador Para atrair boas Energias

Defumador: folhas de louro secas, trigo de kibe, cravos-da-Índia e milho picado. Faça este defumador da porta para dentro e peça prosperidade.

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Conheça os Habitantes do Juremá

Postado por: Ebomi at 12:58 0 Comentários
No texto explicativo conheça os Habitantes do Juremá que são duas categorias de entidades espirituais tem seus assentamentos nas mesas de Jurema, os Caboclos e os Mestres.

Os Caboclos são identificados como entidades indígenas que trabalham principalmente com a cura através do conhecimento das ervas, dão passes e realizam benzeduras com ervas e folhagens. São associados às correntes espirituais mais elevadas, as que trabalham para o bem, mas que também podem ser perigosas quando usados contra alguém. Por isso são muito temidos e respeitados.


cabocla-jurema - Os habitantes do Juremá

Uma outra categoria de entidades que recebem culto na Jurema é a dos Mestres. Os mestres são descritos como espíritos curadores de descendência escrava ou mestiça. Pessoas que, quando em vida, possuíam conhecimento de ervas e plantas curativas. Por outro lado, algo trágico teria acontecido e eles teriam morrido, se “encantando”, podendo assim voltar para “acudir” os que ficaram “neste vale de lágrimas”.

Alguns deles se iniciaram nos mistérios e “ciência” da Jurema antes de morrer. Outros adquiriram esse conhecimento no momento da morte, pelo fato desta ter acontecido próximo a um espécime da árvore sagrada.

Os Habitantes do Juremá

O símbolo dos mestres é o cachimbo ou “marca”, cujo poder está na fumaça que tanto mata como cura, dependendo se a fumaçada é “às esquerdas” ou “às direitas”. Essa relação com a “magia da fumaça” é expressa nos assentamentos dos mestres, onde sempre se encontra presente “rodias” de fumo de rolo, nos cachimbos e nas toadas.

As marcas são gravadas nos cachimbos, e indicam as vitórias alcançadas pelo mestre que o usa. Quando em terra, os mestres já chegam embriagados e falando embolado. São brincalhões, falam palavrões, mas são respeitados por todos. Dançam tendo como base o ritmo dos Ilus e a letra das toadas.

>> Umbanda e sua Historia completa <<



Como oferendas, recebem a cachaça, o fumo, alimentos preparados com crustáceos e moluscos diversos. Com essas iguarias, agrada-se e fortifica-se os mestres.

A bebida feita com a entrecasca do caule ou raiz da Jurema e outras ervas de “ciência” (Junça, Angico, Jucá, entre outras) acrescidas à aguardente, é, entretanto, a maior fonte de força e “ciência”, para estas entidades.

Também trabalham no Catimbó as Mestras. Tais mestras são peritas nos "assuntos do coração", são elas que dão conselhos as moças e rapazes que queiram casar-se, que realizam as amarrações amorosas, que fazem e desfazem casamentos. Então você gostou de conheçar outros tipos de cultos sem ser o Comum Candomblé e a Umbanda.

PONTOS DA CABOCLA JUREMA

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Simpatia Cigana para o amor aumentar e se tornar em paixão

Postado por: Ebomi at 22:13 0 Comentários
Esse feitiço é uma simpatia com ajuda da Cigana para o amor aumentar e logo se tornar em paixão. Esta macumba serve para quem quiser esquentar uma relação que já está fria ou ainda não esquentou. Aconselho fazer com fé para o resultado sair como o desejado.

Os Materiais necessários para Simpatia Cigana:

2 Velas vermelhas;(bonitas sem espinho)
1 Vela rosa; (cera)
1 Vela branca;(cera)
1 Imã;(pode ser pequeno)
1 Fio para atar as velas. (que nunca tenha sido usado)



feitiço com cigana Simpatia para o Amor

Você deve começar a magia assim, acenda a vela rosa e junte as 2 velas vermelhas com os pingos de cera da vela rosa, sele e junte as 2 velas vermelhas até ficarem bem agarradas com ajuda da cera da vela rosa (pode usar uma corda para amarrar as 2 velas, a qual ser depois retirada após as velas estarem coladas com a cera).

Acenda a primeira vela vermelha presa e colada com a outra vela vermelha e diga:

A Reza para a Simpatia do amor virar Paixão


Estou acendendo este fogo, com a minha paixão e meu amor. A segunda vela que é a dele, dever acender (usando um fósforo ou uma vela branca acesa com a sua vela vermelha) e dizer:

Estou acendendo o teu fogo, do meu fogo, a sua paixão da minha paixão, o seu amor no meu amor, para que você seja só meu, fiel, carinhoso e generoso e aumente o seu desejo por mim como o é por você.

Coloque as duas velas juntas em cima de um ímã e reze Oração Cigana para o amor, que segue:

Salve a Rainha Cigana do Povo do Oriente!
Salve todas as forças da Nat ureza: o fogo, a gua, o ar e a terra.
Salve toda semente que brota no seio da terra, as flores e os frutos benditos.
Salve o calor do Sol e a luz magica da Lua que aquece nossos seres e ilumina nossas almas.
Em nome de todas essas energias poderosas e do Deus pai de todos os ciganos, rogo com toda humildade para o povo cigano Seu filho que ilumine os caminhos de (seu nome) no trabalho, no amor e na saúde.

Rogo a todo o povo cigano e seu Deus Pai que leve a minha imagem, o meu amor, o meu nome e o meu coração ªo ao coração de (nome de seu amado ou amada).

Ciganos, não permitam que (nome de seu amado ou amada) se afaste de mim.
Faça com que nosso amor floresça, que de frutos, que brilhe como o Sol e seja poderoso e encantador, como a magica luz da Lua.

Que a magia do povo cigano, com toda força do bem, afaste de nós os dois toda a maldade, ciúme e toda inveja e que nos coloque dentro de um círculo dourado da paz, da harmonia e da felicidade baseada num amor eterno.

Eu (seu nome), agradeço de coração a Rainha Cigana do Povo do Oriente e a todas as forcas da Natureza.

Que assim Seja! E assim . Assim será!

- Logo depois apague as 2 velas e repita o ritual por 7 dias à mesma hora para reforçar o poder desta simpatia. Dever fazer esta simpatia numa noite de Lua cheia (ótima para feitiços para o amor).

Caso queira ainda reforçar mais esta simpatia, acenda e refaça o ritual por 21 dias consecutivos ou mesmo os dias suficientes até as velas se esgotarem. Quando as velas se queimarem todas, poder deitar os restos em águas correntes.

Caso você ainda não tem um amor para esquentar veja esse banho aqui para atrair um amor.

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