É Possível mudar a Data da Morte? Orixá Iku

Postado por: Ebomi at 08:55 1 Commentario
Tudo o que nasce um dia morre. Qualquer coisa, animal ou indivíduo, mais dias ou menos dias morrerá. Se pensarmos bem, veremos que a vida e a morte são faces da mesma moeda: a existência. No Candomblé e na Umbanda temos uma concepção bem diferente de como funciona a dinâmica da morte, contrariando muito nossa cultura e o que aprendemos desde de criança em que a morte simplesmente é predestinada a levar uma pessoa somente em uma data especifica, ou simplesmente não podendo ser evitada ou alterada, veremos no texto alguns conceitos da tão temida morte (Orixá Ikú).

A seguir poderemos notar a grande importância de uma orientação espiritual constante, pois a ninguém  está livre de ser surpreendido pelo destino (ser visitado pela Morte antes do tempo). Eu espero que o texto mude um pouco a concepção de forma que traga um melhor entendimento sobre o assunto entre: DESTINO - MORTE - TEMPO NA TERRA - E SE É POSSÍVEL ALTERAR OU EVITAR A MORTE DE ALGUMA FORMA EM SEU DESTINO.

LENDAS DE IKÚ - MORTE


Em nossa cultura ocidental em geral, ensinaram-nos a temer a morte, como se ela fosse a pior coisa que poderia nos acontecer. E, ainda desde criança, criaram em nossas mentes algumas imagens para esteriotipar a morte como a figura de alguém vestido com uma túnica longa, usando um capuz cobrindo não somente a cabeça, mas, escondendo a face que nunca aparece, por estar sempre na penumbra formada por esse capuz; ou então, uma outra figura também de túnica longa, com o rosto de uma caveira, também com a cabeça encoberta por um capuz e segurando em suas mãos um grande cajado terminado em feitio de foice; isto, para enfatizar a função do “ceifador de vidas”, de quem ninguém jamais escapará.

Orixá Iku - A morte

A história Yorùbá como sabemos, é pródiga em pequenas lendas; para tudo ou quase tudo há sempre uma historinha explicando o porque daquilo. Como não poderia deixar de ser, Ikú (a Morte), também tem suas histórias interessantes. E uma delas conta que:
Ikú, era um jovem guerreiro, forte e muito bonito. Sua beleza era tamanha que impressionava tanto às mulheres quanto aos homens.

As mulheres encantavam-se tanto com sua bela figura que onde quer que o vissem, acompanhavam-no só para poderem continuar admirando aquela criatura tão encantadora. Não podiam desviar os olhos dele.

Os homens, embora tentassem disfarçar ou não quererem admitir que estavam encantados com a beleza do Orixá Ikú, também acabavam seguindo-o. Alguns do tipo machão, diziam que seguiam-no somente por curiosidade de saber quem era e onde morava.

Só que Ikú morava no Igbó-Ikú (Floresta dos Mortos ou Floresta da Morte), de onde quem quer que fosse até lá e entrasse, jamais sairia; nunca mais seria visto, pois fora para o Igbó-Ikú.
E todo o encanto e beleza de Ikú, tinham justamente o objetivo de chamar a atenção das pessoas e atraí-las, e que inadvertidamente seguiam-no e adentravam no Igbó-Ikú, o reino dos mortos, onde, evidentemente, o rei era o próprio Ikú e de onde não é permitido a ninguém retornar, uma vez ali adentrado.

Em outra história, Ikú está ligada ao mito da criação dos seres humanos. Conta a lenda que Olódùmarè, ao decidir criar o ser humano, designou essa incumbência Òòsààlà, que teve a necessidade de obter o material adequado para aquele propósito. Pensou e achou que o melhor material para moldar os seres humanos seria amòn (o barro) formado pela mistura de terra e água. Então, Oxalá que fora incumbido daquela tarefa por Olódùmarè, ordenou a Èsù o mensageiro, que fosse buscar um pouco de lama para que Ele pudesse executar sua tarefa.

Como era corrente e sabido por todos, não havia nada que Èsù não pudesse realizar, e a tarefa parecia super fácil para ele. Mas, ao chegar ao local, quando Èsù meteu a mão na lama arrancando-a, Ayé (a Terra) chorou porque estavam arrancando parte dela e ela sentia muita dor com aquilo. Embora Èsù tivesse fama de mau e implacável, ficou mortificado de pena de Ayé e deixou a lama para lá. Regressou a Òòsààlà e relatou o acontecido.

Osalá então chamou Ògún, este sim, guerreiro intrépido e destemido que em batalhas matava o inimigo até mesmo brincando, resolveria aquele pequeno problema. E lá se foi Ogum. Em lá chegando, quando ele retirou a lama para colocar em sua làbà (bolsa capanga), Ayé caiu em prantos lamentando-se. Ogun também ficou penalizado ora, Ayé não lhe fizera nada de mal e ele não estava zangado, e assim, não tinha ímpeto suficiente para feri-la. E também voltou a Òòsààlà para explicar o seu fracasso em cumprir sua missão.

Assim, um a um dos Orixá que foram incumbidos por Òòsààlà para aquela mesma missão, voltava com a mesma desculpa: ninguém foi capaz de tirar a lama de Ayé, cada qual com suas qualidades que o recomendava com a certeza do cumprimento da tarefa, mas, tudo em vão.

Foi aí que Oxalá chamou Ikú, deu-lhe a àpò (bolsa) e mandou-o para executar a tarefa que todos os demais Ìmolè tinham fracassado em cumprir. Então, Ikú ao chegar na terra começou a retirar a lama de Ayé, e ela chorou, mas, Ikú não se importou com o pranto dela e pegou toda a lama de que precisava e retornou a Òòsààlà com sua missão cumprida.

Então, após moldar os seres humanos, Oxalá plantou uma árvore para cada um, para que ela lhe suprisse o oxigênio e desse continuidade à respiração, iniciada pelo sopro divino de Olodumare pois, Olódùmarè o Criador Supremo, insuflou o seu hálito (èémí) para dar vida e mobilidade aos seres humanos. E disse a Ikú que, como fora ele quem retirara o material necessário para moldar os seres humanos, em qualquer época que se fizesse necessário, ele estaria também incumbido de levá-lo de volta para recolocar em seu lugar de origem, após a utilização daquele material. Por isso é, que quando chega a época da devolução daquela porção do material primordial, Ikú é quem vem buscar a pessoa para recolocá-la em seu lugar original.

Visto assim, do ponto de vista das lendas Yorùbá, Ikú (a Morte) não é aquela coisa tenebrosa que nos incutiram desde a mais tenra idade. Ikú, para os Yorùbá tradicionais é ao mesmo tempo, o fornecedor primordial e o restaurador da matéria retirada e fornecida por Ele próprio, sendo Ele assim o princípio e fim, o princípio e o fim e, e o princípio e o fim..., e assim sucessivamente, num eterno círculo, onde não há início nem final, que está sempre recomeçando.

Devemos estar cientes que temos sempre ter um acompanhamento através do jogo, para que a morte não nos pegue antes de nossa data determinada pelo Ser Supremo, às vezes a morte pode chegar até nós em conseqüência dos nossos atos.

José Beniste no Livro Òrun Àyé diz o seguinte:

“Embora a morte seja inevitável, e imprevisível, vimos que ela pode sofrer alterações através da intervenção de Òrúnmìlà ou de qualquer outro Orixá junto a a Olódùmarè, e isto é previsto em outro mito, quando Èsù consegue subornar o filho de Ikú, que revela o modo pelo qual Ikú matava com o uso de uma clava, a fonte indispensável de seu poder.

Sem essa clava, Ikú tornava-se impotente. Exú foi ajudado por Ajàpàá, a tartaruga, que conseguiu o que desejava, conforme o dito Ajàpàá gbé òrúkú l’owó Ikú – “A tartaruga tirou a clava das mãos de Ikú”.

Posteriormente, fez um pato com Orunmilá, com a condição dele ajuda-lo a recobrar a sua clava, em troca, Ikú só levaria aqueles que não se colocarem sob a proteção de Òrúnmìlà ou aqueles que estivessem com a data marcada para o fim de suas vidas na Terra”

Por isso é sempre bom que as pessoas façam uma acompanhamento de sua situação, pedindo ao seu Babalorixá (Pai de Santo) ou procurando um Bàbàláwo (Pai dono detentor dos segredos ou Sacerdote de Ifá) para saber se anda tudo em ordem.
A morte é vista como um agente natural criado pelo Ser Supremo, que atua em determinada fase da vida, Ìkú é um personagem masculino e sua lógica é voltada para as pessoas que dadas as certas condições devem viver até uma idade avançada.

Por isso quando vemos que uma pessoa mais nova falece, o fato é considerado uma tragédia e quando isto ocorre com uma pessoa idosa isso é ocasião para se alegrar.

Vamos citar agora dois Ìtàn do odú Òyèkú Méjì, onde um deles nos relata como a morte começou a matar depois que sua mãe foi espancada e morta na praça do mercado.


oloje iku ike obarainan


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